sexta-feira, 7 de maio de 2010

O idioma, vivo ou morto?

O grande problema da língua pátria é que ela é viva e se renova a cada dia. Problema não para a própria língua, mas para os puristas, aqueles que fiscalizam o uso e o desuso do idioma. Quando Chico Buarque de Hollanda criou na letra de "Pedro Pedreiro" o neologismo "penseiro", teve gente que chiou. Afinal, que palavra é essa? Não demorou muito, o Aurélio definiu a nova palavra no seu dicionário. Isso mostra o vigor da língua portuguesa. Nas próximas edições dos melhores dicionários, não duvidem: provavelmente virá pelo menos uma definição para a expressão "segura o tcham". Enfim, as gírias e expressões populares, por mais erradas ou absurdas que possam parecer, ajudam a manter a atualidade dos idiomas que se prezam.
O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo do que propriamente aos gramáticos e dicionaristas de plantão. Nesse sentido, é no mínimo um absurdo ficar patrulhando os criadores. Claro que os erros devem ser denunciados. Mas há uma diferença entre o "erro" propriamente dito e a renovação. O poeta é, portanto, aquele que provoca as grandes mudanças na língua.
Pena que o Brasil seja um país de analfabetos. E deve-se entender como tal não apenas aqueles 60 milhões de "desletrados" que o censo identifica, mas também aqueles que, mesmo sabendo o abecedário, raramente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é comum ver nas placas a expressão "vende-se à praso", em vez de "vende-se a prazo"; ou "meio-dia e meio", em vez de - como é mesmo?
O português de Portugal nunca será como o nosso. No Brasil, o idioma foi enriquecido por expressões de origem indígena e pelas contribuições dos negros, europeus e orientais que para cá vieram. Mesmo que documentalmente se utilize a mesma língua, no dia-a-dia o idioma falado aqui nunca será completamente igual ao que se fala em Angola ou Macau, por exemplo.
Voltando à questão inicial, não é só o cidadão comum que atenta contra a língua pátria. Os intelectuais também o fazem, por querer ou por mera ignorância. E também nós outros, jornalistas, afinal, herrar é um, ops, umano!

SANTOS, Jorge Fernando dos. "Estado de Minas", Belo Horizonte

1 - Em todas as seguintes passagens, o autor deixa transparecer ideias que ele mesmo considera puristas, EXCETO em:

a) Claro que os erros devem ser denunciados. Mas há uma diferença entre o "erro" propriamente dito e a renovação.
b) ... não é só o cidadão comum que atenta contra a língua pátria.
c) Nesse sentido, é no mínimo um absurdo ficar patrulhando os criadores.
d) Pena que o Brasil seja um país de analfabetos. [...] Por isso, é comum ver nas placas a expressão "vende-se à praso"...
(e) O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo...



2 - Assinale a alternativa em que o autor, ao defender o dinamismo da língua, incorre em uma contradição.

a) Não demorou muito, o Aurélio definiu a nova palavra no seu dicionário.
b) Enfim, as gírias e expressões populares [...] ajudam a manter a atualidade dos idiomas...
c) O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo...
d) O poeta é, portanto, aquele que provoca as grandes mudanças na língua.
(e) Pena que o Brasil seja um país de analfabetos.

3) De acordo com o texto, é CORRETO afirmar que

a) a língua não oprime os artistas quando os submete à vontade do Estado.
b) os artistas revelam o caráter transitório da norma culta ao infringirem-na.
c) os escritores contrariam as regras gramaticais porque as desconhecem.
d) os gramáticos impõem normas para os artistas não as transgredirem.
(e) os poetas ligam-se às regras para fazer a sua arte.

4) “O grande problema da língua pátria é que ela é viva...”. Neste fragmento, é correto afirmar:

(a) é viva porque causa problemas;
(b) os problemas ocorrem porque ela é viva;
(c) é viva, assim como os problemas;
(d) a língua da pátria e os problemas são vivos;
(e) a pátria é viva, assim como a língua.

5) “Pena que o Brasil seja um país de analfabetos.”

O termo destacado tem o valor semântico de:

(a) dúvida;
(b) satisfação;
(c) ironia;
(d) constatação;
(e) confirmação.

Texto 2

Leia o texto com atenção e responda às questões de 1 a 5:

Mercado do desespero

Escolho a Índia, país maravilhoso, todavia poderia escolher vários outros para trazer brevemente um dos problemas mais sérios da atualidade.
Falo do crescente comércio de órgãos humanos de doadores vivos que domina a cena global. O encontro entre carências e demandas vitais: no mercado. De um lado compradores, desesperados por sobreviver a doenças. De outro, vendedores desesperados por sobreviver à miséria. E uma organização no meio deles, anunciando o milagre, arregimentando fragilidades, negociando a mercadoria, viabilizando cirurgias, corrompendo consciências e controles, alimentando redes via internet. De longe, governos minimizando ou negando que a barbaridade floresça em suas respectivas ilhas de tranquilidade e exceção.
Apesar da legislação, a Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos para o exterior, em sua maioria, já devidamente instalados no corpo dos estrangeiros. A Organização Mundial de saúde denuncia a prática, que envolve milhares de pessoas convencidas a vender rins ou córneas. Estudo recente mostrou a deterioração da saúde de 86% dos doadores indianos. Facilitam alguns valores culturais e a dominação masculina, levando a que mais de 70% dos doadores sejam mulheres. Muitas aceitam encenar casamentos com doentes, que as remuneram após conseguir o órgão, desfazendo a combinação em seguida. Vendem seus órgãos para pagar dívidas da família, para obter recursos para os estudos de um filho, para o dote da filha. Não parece história de novela?
Mas já em 2004 a Organização Mundial de Saúde reconhecia ser tragédia do mundo real e recomendava aos estados-membros que promovessem medidas urgentes para proteger seus pobres e vulneráveis do “turismo do transplante”, dando a atenção devida ao tráfico internacional de órgãos.
Em 2008 também o Papa exigiu ética em doações e transplantes e providências contra o que chamou de “abominável” tráfico humano.


Elizabeth Sussekind, O Dia, 09.02.2009

1) No começo do texto, a autora diz ter escolhido a Índia para ratar do problema do comércio de órgão humanos. Tal escolha, segundo o primeiro parágrafo, se deve ao fato da Índia:

(a) por ser um país maravilhoso, deveria ser uma ilha de tranquilidade e exceção;
(b) vive em situação mais miserável que os demais países;
(c) é o maior fornecedor de órgãos humanos de doadores vivos.
(d) possui uma organização mais atuante que outros países pobres.
(e) é simplesmente um, entre vários países, que exemplifica o problema tratado.


2) O “desespero” a que faz alusão o título abrange:

(a) doadores e compradores;
(b) doadores, compradores e organizadores;
(c) doadores, compradores, organizadores e governos;
(d) organizadores e governos;
(e) somente compradores.

3) A autora utiliza, em vários momentos, a conotação. Assinale a alternativa que comprova esta afirmação:

(a) “...anunciando o milagre...”
(b) “...negociando a mercadoria...”
(c) “...viabilizando cirurgias...”
(d) “...arregimentando fragilidades...”
(e) “...corrompendo consciências e controles.”




4) “De longe, governos minimizando ou negando que a barbaridade floresça em suas respectivas ilhas de tranquilidade e exceção.” Segundo este segmento, os governos referidos pautam sua atuação na:

(a) falsidade ideológica; d) desonestidade comercial;
(b) hipocrisia política; (e) segurança policial.
(c) discriminação racial;

5) “Apesar da legislação, a Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos.”
Marque a alternativa em que a forma de reescrever altera o sentido original da frase acima.

(a) A Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos, a despeito da legislação.
(b) A Índia, apesar da legislação, é o país de onde mais saem órgãos humanos.
(c) O país de onde órgãos humanos mais saem, apesar da legislação, é a Índia.
(d) O país de onde mais saem órgãos humanos, apesar da legislação, é a Índia.
(e) A Índia, a despeito da legislação, é o país de onde mais saem órgãos humanos.

Texto 3

Leia o texto abaixo e responda às questões de 01 a 05

Luto da família Silva

A Assistência foi chamada. Veio tinindo.. Um homem estava deitado na calçada. Uma poça de sangue. A Assistência voltou vazia. O homem estava morto. O cadáver foi removido para o necrotério. Na seção dos "Fatos Diversos" do Diário de Pernambuco, leio o nome do sujeito: João da Silva. Morava na Rua da Alegria. Morreu de hemoptise.
João da Silva - Nunca nenhum de nós esquecerá seu nome. Você não possuía sangue azul. O sangue que saía de sua boca era vermelho - vermelhinho da silva. Sangue de nossa família. Nossa família, João, vai mal em política. Sempre por baixo. Nossa família, entretanto, é que trabalha para os homens importantes. A família Crespi, a família Matarazzo, a família Guinle, a família Rocha Miranda, a família Pereira Carneiro, todas essas famílias assim são sustentadas pela nossa família. Nós auxiliamos várias famílias importantes na América do Norte, na Inglaterra, na França, no Japão. A gente de nossa família trabalha nas plantações de mate, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mato, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha. Nossa família quebra pedra, faz telhas de barro, laça os bois, levanta os prédios, conduz os bondes, enrola o tapete do circo, enche os porões dos navios, conta o dinheiro dos bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa família é feito Maria Polaca: FAZ TUDO.
Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala comum da glória, João da Silva. Porque nossa família um dia há de subir na política...

BRAGA, Rubem. "Luto da família Silva." Apud: Para gostar de ler. São Paulo: Ática






01 - A leitura do texto permite afirmar que o autor:

a) quis desqualificar as famílias não importantes, como a Silva.
b) pretendeu enaltecer a tradição de famílias importantes na história brasileira.
c) explicitou a submissão dos países da América do Sul aos da América do Norte.
d) propôs uma reflexão sobre diferenças sociais, sugeridas também pelos nomes de família.
e) enfatizou a importância de se melhorarem os Silva para entrarem na política.

02 - No texto, a expressão "vermelhinho da silva" traduz a ideia de:

a) intensidade.
b) carinho.
c) pequenez.
d) ironia.
e) desprezo.

03 - O texto estrutura-se na oposição entre os Silva e as demais famílias. Essa relação revela-se em;

a) "vai mal em política" e "há de subir na política".
b) "em todo lugar onde se trabalha" e "a gente de nossa família trabalha nas plantações de mate".
c) "vermelhinho da silva" e "sangue azul".
d) "vala comum da miséria" e "vala comum da glória".
e) "vermelho" e "vermelhinho da silva".

04 - A oração "faz tudo", em destaque no texto, assume a função de

a) resumir e comentar informações anteriores.
b) retomar e sintetizar informações anteriores.
c) expandir e explicar informações anteriores.
d) explicar e comentar informações anteriores,
e) retomar e explicar informações anteriores.

05 - A repetição da palavra família justifica-se:

(a) para citar todas as famílias do mundo.
(b) para citar as famílias que pela dele são sustentadas.
(c) para informar que as famílias não são importantes
(d) para informar um possível erro
(e) por ser ele de uma destas famílias.

06 - O tema central do texto é:

(a) mostrar sua família;
(b) mostrar que trabalha para várias famílias;
(c) mostrar a condição social de sua família;
(d) mostrar a condição social das outras famílias;
(d) descrever as famílias.
Uma vela para Dario


Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Foi escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva, e descansou no chão o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Estendeu-se mais um pouco, deitado agora na calçada, o cachimbo a seu lado tinha apagado. Um rapaz de bigode pediu ao grupo que se afastasse, deixando-o respirar. E abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou pela garganta e um fio de espuma saiu do canto da boca.
Cada pessoa que chegava se punha na ponta dos pés, embora não pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram acordadas e vieram de pijama às janelas. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao lado dele.
Uma velhinha de cabeça grisalha gritou que Dario estava morrendo. Um grupo transportou-o na direção do táxi estacionado na esquina. Já tinha introduzido no carro metade do corpo, quando o motorista protestou: se ele morresse na viagem? A turba concordou em chamar a ambulância. Dario foi conduzido de volta e encostado à parede - não tinha os sapatos e o alfinete de pérola na gravata.

Dalton Trevisan

1) Depois que você leu o texto, não é difícil identificar sua temática:

a) solidariedade com os dramas alheios;
b) hipocrisia sentimental, falso pesar em face da desgraça alheia;
c) crítica ao atendimento médico nas grandes cidades;
d) participação de todos quando a cidade é pequena e provinciana;
e) a pressa nas grandes cidades, que leva ao cansaço e à morte.



2) "Já tinham introduzido no carro a metade do corpo, quando o motorista protestou: se ele morresse na viagem?"

O protesto do motorista revela:

a) egoísmo de quem não quer "dor-de-cabeça";
b) piedade de quem se sente solidário;
c) precaução de quem tem experiência;
d) cuidado de quem sugere o transporte de ambulância;
e) bom-senso de quem espera a presença da polícia.



3) "Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ATAQUE." A palavra em destaque pode ser substituída por:

a) pneumonia;
b) epilepsia;
c) dispnéia;
d) hemofilia;
e) erisipela.

4) De maneira indireta, o autor nos sugere cenas de:

a) piedade cristã;
b) respeito humano;
c) vandalismo coletivo;
d) fria e macabra rapinagem;
e) experiência e trabalho sociais;
A estranha passageira


- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada.
Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens.
Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive de realizar essa operação em sua farta cintura.
Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço antes as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:
- Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
- É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho.
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:
- Uai ...as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro? Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue ( embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos por todos os lados
O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?
Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.
Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.
Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janelinha para ver a paisagem) e gritou:
- Puxa vida !!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
- Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço.
Olha só ... o pessoal lá embaixo parece formiga.
Suspirei e lasquei:
- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.

(Livro dos transportes. Ministério dos transportes, SD, Rio de Janeiro,1970)


Exercícios

1. “ É a primeira vez que viajo de avião.” Esta afirmação iria se comprovar durante toda a crônica, tais os “vexames” dados pela senhora. Assinale a frase que não demonstre um deles:

a) “Para que esse saquinho aí?”
b) “No avião não tem banheiro?”
c) “Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?”
d) “Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona...”
e) “...mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás...”

2. “ Suspirei e fiz de educado respondendo que estava às suas ordens.”( linhas 5 e 6). Os suspiros demonstram nesta passagem:

a) resignação;
b) contrariedade;
c) arrependimento;
d) aborrecimento;
e) raiva.

3. No título da crônica, a passageira é chamada de “estranha”. Outras qualificações podem ser dadas a ela
depois que lemos integralmente a crônica. Assinale a que não lhe corresponde:

a) inexperiente;
b) envergonhado;
c) incômoda;
d) embaraçante;
e) ridícula.

4. “Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos... “(linha 7). Com o verbo “sobraçar” o autor- narrador quer dizer que a madama:

a) levava mais embrulhos do que era possível;
b) levava embrulhos de baixo do braço;
c) carregava um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;
d) trazia um monte de embrulhos que eram abraçados por ela;
e) trazia a quantidade de embrulhos que era possível levar nas mãos.

5. “...minha vizinha apertava os olhos e lia qualquer coisa. ”(linhas 28 e 29). Com a expressão “apertar os olhos” o narrador quer dizer-nos que a senhora:

a) não enxergava direito;
b) não sabia ler;
c) estava com sono;
d) que a porta de emergência estava longe de onde estavam sentados;
e) que sentia dores nos olhos.

Textos para estudos

O Valente


Chegou a cidadezinha de Pedras Altas numa chuva antiga. Em boa sela e melhor estribo veio ele. Falava pelo canto da boca – do outro lado da brasa do seu charuto espiava o mundo. No Hotel Chic, tirando uma pesada e alentada garrucha, deu nome e patente:
- Sou o Capitão Quirino Dias.
Mandou que arrumassem o seu baú de viagem dentro do maior cuidado:
É tudo munição, coisa de muita responsabilidade.
A cidadezinha de Pedras Altas viu logo que estava diante de um pistoleiro de marca. E isso ganhou raiz quando um tropeiro, indo ao Hotel Chic levar a encomenda de boca, espalhou que o sujeitão do charuto era um perseguido da Justiça, que matava pelo gosto de ver de que lado o cristão caía:
- Vou simbora, que esse capitão é o capeta.
E foi. Atrás da poeira do tropeiro a fama de Quirino Dias cresceu. No Hotel Chic o melhor prato era pra seu dente, o melhor doce era para sua língua. De tarde, em cadeira da palhinha, o capitão montava a sua pessoa na porta da rua. Pedras Altas passava por ele de cabeça baixa, acanhada, fazendo questão de saudar o pistoleiro. E no dia em que bebeu cachaça, com pólvora, na vista de todo o Hotel Chic, então não teve mais tamanho a sua fama. Bebeu e disse:
- Tenho trabalho longe. Só volto na semana entrante.
No quarto, remexeu o baú, limpou a garrucha e sumiu nas pastas de seu Brasino. O povo comentou:
- É viagem de tocaia.
Foi e voltou dentro do tempo estipulado. De novo montou seu charuto na porta do Hotel Chic. Com o rolar dos dias, o capitão ficou mais exigente. Uma tarde, como não apreciasse o canto choco de certo galo-capão, foi ao quarto, mexeu no baú e despejou dois tiros no infeliz. Fez o mesmo com um bem-te-vi que gozava as suas tardes fagueiras em galho de jaqueira. Desde essa precisa hora em diante, toda vez que o capitão ameaçava recorrer ao baú, Pedras Altas tremia:
- Capitão, não faça isso, capitão tenha dó.
A bem dizer, a cidadezinha era dele. Seus pedidos de dinheiro corriam nas pernas dos moleques de leva-e-traz. E era quem mais queria municiar o capitão, no medo de que fosse ao baú. Ele mesmo dizia pelo canto desocupado da boca:
- Não abro aquela peça sem ganho.
Aconteceu, então, o caso da onça. A notícia veio ligeira e ligeira arou no Hotel Chic. A pintada fazia e acontecia, comia bezerro com casco e tudo. O recadeiro mediu o tamanhão da bichona:
- É de porte alentado, para mais de duzentas arrobas.
Pedras Altas riu da onça, da desgraça da onça. Tanto pasto para vadiar e logo onde veio a pobre tirar carta de brabeza! Em Pedras Altas do Capitão Quirino Dias! Pepito Rosa, dono de um comercinho de cachaça, riu da pouca sorte da onça:
- Vai ser azarada assim na casa dos capetas.
Uma embaixada de coronéis, com todos os seus pertences, na mesma tarde foi pedir a Quirino Dias providências contra a onça. Logo na abertura da conversa, o capitão arregalou os olhos e gritou:
- Onça? Está dando onça em Pedras Altas? Socorro! Quero lá saber disso!
E a cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. Nem teve tempo de levar o baú, uma peça de folha onde o capitão guardava suas bugigangas – pentes, rendinhas, frascos de cheiro, alfinetes e águas de moça. Quirino Dias era caixeiro viajante.

(Crônicas exemplares. Edições de Ouro, Rio de Janeiro, 1976)
1. O personagem foi reconhecido por valentão por várias razões. Assinale a exceção:

a) pelo jeito de falar pelo canto da boca;
b) pela presença da garrucha “ pesada e alentada”;
c) pelo fato de fumar charuto cuja brasa “espiava o mundo”;
d) pela carga que levava: munição;
e) pela atitude de comando.

2. Assinale a afirmativa que não está de acordo com a seguinte frase: “ Vou simbora, que esse capitão é o capeta.”

a) É afirmação do tropeiro, assustado pela fama de valente do Capitão Quirino Dias.
b) Mostra certa falta de cultura por parte do tropeiro, já que comete erros de português.
c) Deveria ser substituída por: “Vou-me embora, que esse capitão é o capeta.”
d) O capeta foi considerado como símbolo de poder e maldade.
e) O tropeiro pensou que o Capitão estava possuído pelo demônio.

3. “ Pedras Altas passava por ele de cabeça baixa...” “ Nesta frase você pode notar um processo muito comum na linguagem literária. O Autor usa o nome da cidade em lugar de dizer, por exemplo, “ as pessoas da cidade”. Em outras palavras, ele emprega “ o todo” ( a cidade) pela “parte” (somente as pessoas da cidade). Este mesmo processo não se encontra em que frase abaixo?

a) “... na vista de todo o Hotel Chic...”
b) “... a brasa do seu charuto espiava o mundo.”
c) “... era um perseguido da Justiça.”
d) “ no Hotel Chic o melhor prato era para seu dente...”
e) “ Pedras Altas riu da onça, da desgraça da onça...”

4. Do mesmo modo, o Autor pode usar a “parte” em lugar do “todo”, processo igualmente utilizado em linguagem literária. Assinale a frase abaixo em que não se vê esse processo:

a) “Em boa sela e melhor estribo veio ele”.
b) “Falava pelo canto da boca”.
c) “... a brasa do seu charuto espiava o mundo”.
d) “No Hotel Chic o melhor prato era para o seu dente...”
e) “De novo montou seu charuto na porta do Hotel Chic”.

5. Qual a finalidade do episódio da onça?

a) mostrar que o Capitão Quirino Dias tinha medo de animais selvagens;
b) indicar que o local onde se desenrolou a estória era no interior do Brasil;
c) provar que o Capitão Quirino Dias era caixeiro-viajante;
d) comprovar a desconfiança dos coronéis de que o Capitão não era quem dizia ser;
e) demonstrar que o Capitão não era valente.